quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Tobago

Tobago é uma ilha de 300 km², com 42 km de comprimento e 10 km de largura, que faz parte de Trinidad & Tobago. Quase toda montanhosa e coberta por florestas tropicais tem apenas cerca de 60.000 habitantes, a esmagadora maioria negra, com alguns hindus e brancos. A maior parte vive na ponta sul da ilha, que é plana e desmatada. Lá ficam as cidades maiores: Scarborough (17000 hab), Crown Point e Plymouth. Como a economia é incipiente a ilha está bem preservada e para o norte existem apenas pequenas vilas sempre próximas ao mar. A população em geral vive com poucos recursos, mas todas povoações principais possuem escola e biblioteca públicas com internet grátis, posto de saúde, água tratada, caixa automático de banco e estrada asfaltada que contorna toda a ilha.

A ilha de Tobago com suas vilas, baías e estradas

Charlotteville é uma pequena e pacata cidade, a mais ao norte de Tobago. Os únicos não negros são os velejadores de passagem ou algum eventual turista. Possui a maior comunidade de pescadores de Tobago, reunidos numa cooperativa, que em cerca de 40-50 barcos como o mostrado na foto abaixo pescam de corrico peixes como Cavala, Dourado (aqui Mahi-Mahi) e Kingfish.

Charlotteville vista da estrada para o sul da ilha
Um belo entardecer em Charlotteville

A canoa motorizada usada na pesca de corrico

Os veleiros costumam ancorar em frente a Pirate's Bay, uma pequena enseada dentro da Man O'War Bay, numa profundidade de 15-20m. Próximo a vila o fundo possui muitas pedras. Depois de ancorar, com cerca de mais 20 veleiros, fomos a terra para fazer os trâmites de imigração e conhecer a vila. Na segunda-feira (19/12) fomos a um local que reúne no mesmo pequeno ambiente acesso a internet e lavanderia. Lavar roupa e, claro, "secos" por uma internet. Durou só meia hora. A internet saiu do ar e até a quarta-feira à tarde quando saímos de lá ainda não havia retornado. Por sorte meu filho Gabriel estava no computador e consegui dar notícias pelo Skipe antes da internet cair.

A ancoragem em frente a pequena Pirate's Bay

A Work Shop e seus múltiplos serviços

Na terça contratamos o Davis, misto de motorista, guia, cozinheiro e garçon dono de uma biroska pé-na-areia, para um tour pela ilha, na sua Nissan cabine dupla novinha. A estrada é asfaltada, muito sinuosa pelo meio da mata beirando o mar. Em Trinidad & Tobago a mão é inglesa , assim como a língua oficial, e ao cruzar outro carro parecia que a colisão era inevitável. A costa noroeste tem as praias e enseadas mais lindas, com destaque para, além de Charlotteville, Parlatuvier, Castara e Englishman's Bay, a mais linda.

Este aí é o Davis

A linda baía de Parlatuvier

A praia mais bonita de Tobago, a Englishman's Bay

Neste mesmo dia organizou-se um churrasco, com mais peixe que carne (pois só nós possuíamos carne bovina, artigo raro por aqui), regado a caipirinha com cachaça, com participação do pessoal do Flyer, Daniel e Cristine do Irun, Virginie do Utinam e alguns amigos franceses de outros veleiros, do Travessura, recém chegado em Charlotteville, alguns locais e até uma turista de Madagascar, na biroska do Davis.

Eduardo como sempre pilotando a churrasqueira

Depois de darmos saída na imigração, zarpamos por volta das 16:00h de quarta (22/12), num percurso de 21 mn, para a Store Bay em Crown Point, no sul da ilha, onde ancoramos, em fundo de areia, por volta das 20:00h, a 300m de terra com 5m de profundidade, em frente ao Coco Reef Resort e a prainha do meio. Na ponta sul de Store Bay ficava o Forte Milford e este canto da baía é também conhecido por Milford Bay. Quinta cedo fomos a Scarborough para darmos entrada. A cada vez que nos movimentamos de um lugar para outro é preciso dar entrada e saída na imigração e aduana. Nesta manhã chegaram o Flyer e o Travessura. O Irun foi para Grenada.

Os veleiros na ancoragem em Store Bay

Estamos no último mês da temporada de chuvas e ainda chove todos os dias várias vezes. São chuvas rápidas, localizadas, que muitas vezes se resumem a alguns pingos, mas vez que outra se comportam como um pirajá.

Depois da chuva o arco-íris
Justificar
Aqui em Tobago as águas são piscosas, mas come-se muito frango, que é importado apesar de encontrarmos galinhas soltas em todos os lugares. Carne de gado é raridade e cara, suíno um pouco menos. E a comida é bem apimentada. A colonização foi inglesa, atualmente é americana. Muitos hábitos, principalmente alimentares, importados dos americanos. Mas não há muita consideração pelo consumidor é "se quiser é assim...". Em Trinidad & Tobago é preciso conseguir uma licença especial para vender bebidas alcóolicas, sendo comum restaurantes e lanchonetes e até mini-mercados que não vendem nem cerveja. Deu para notar que eles gostam muito de carros, em sua grande maioria de marcas japonesas, que em muitos casos são customizados ou ostentam adesivos com frases do tipo "It's my Queen". Outra característica local é que pessoas comuns em seus carros fazem serviço de táxi, mediante a cobrança de uma taxa fixa por pessoa conforme o trajeto. No caminho outras pessoas podem ser embarcadas. Existem os táxis "de verdade" mais caros, que também não tem taxímetro, nem aquele indicador no teto, nem cor especial. Tanto num como no outro negocie sempre antes, pois os valores podem variar muito quando o freguês é turista.

Pelicanos sempre presentes

Comemoramos o Natal entre os três veleiros brasileiros, dentre os mais de 20 na ancoragem, já comentado no post anterior. No domingo nosso tripulante Luiz Schaefer, que iria voltar ao Brasil de Trinidad, onde temos reserva na Marina CrewsInn para dia 28, comprou passagem para a mesma noite criando um problema desnecessário ao comandante que vou me abster de comentar.

Avião pousando no Aeroporto Crown Point próximo a Store Bay

Saímos na segunda às 14:30h para Trinidad (Rumo=240®, vento E 18 nós, ondas de 1-2m desencontradas, mais tarde menos de 1m de popa) junto com o Flyer, numa rota de 61 mn. Cruzamos com vários cargueiros duas vezes precisando manobrar para sair da rota de colisão, na segunda delas estávamos no rabo de um pirajá com 30 nós de vento e tivemos que entrar em capa para não colidir. Dormimos no abrigo da Ilha Chacachacare já dentro do Golfo de Pária, onde chegamos quase a uma da manhã.

A Ilha Chacachacare em Las Bocas onde pernoitamos


sábado, 25 de dezembro de 2010

Natal Fora de Casa

Ainda não fiz o post sobre Tobago, mas hoje é Natal e o primeiro que passo longe da minha família. Sempre tem uma primeira vez para tudo...Aqui em Tobago as referências ao Natal são bem menores do que no Brasil. Elas existem no comércio, nas publicidades, em alguns enfeites nas residências e ruas, mas são bem mais tímidas que as nossas. Então não estou com os mesmos sentimentos dos outros natais.

Mas não passei "em branco", ou melhor, não passamos. Reunimo-nos, as tripulações dos três barcos brasileiros ancorados aqui na Store Bay (ou Milford Bay para a BlueChart) em Crown Point, no veleiro Travessura para uma ceia comemorativa. O Travessura, ótimo anfitrião, ofereceu sashimi e postas grelhadas do Atum que eles pegaram na vinda de Charloteville, o Flyer trouxe Tender e Manjar de Coco, para a sobremesa, e o Guga Buy frango defumado com frutas. Tudo acompanhado de cachaça brasileira e vinho. Uma beleza! Hoje rolou o almoço com "restaux du onteaux".

O jantar de Natal ontem, no Travessura

O almoço hoje

O stress ficou por conta da internet, que continua sendo nosso calo. Contratamos sinal wireless para o barco com o inglês John, da Store Bay Marine Services, um apoio náutico numa salinha na praia em frente, misto de acesso a internet e lavanderia e que intermedia outros serviços que cruzeiristas sempre precisam. Só que o sinal é ruim e fraco. Você sente o gostinho de ouvir a voz ou ver o rosto da pessoa querida, mas ela não te ouve ou vê, ou vice-versa, ou...uma m...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Rumo ao Caribe - Perna 3: Kourou - Tobago

Saímos do Rio Kourou, na Guiana Francesa, para cumprir a terceira e última perna com a decisão de irmos a Tobago, na cidade de Charlloteville, a 620 mn na nossa rota. Juntos saíram o Flyer e o Utinam. O Seagull ficou a espera de uma peça para o alternador e o Polaire permaneceu na ancoragem das Iles du Salut.

A ancoragem no Rio Kourou
Saída

Hora/Dia: 12:15 15/12/10 Rumo: 60º
Posição: N 05º08.852' W 052º38.842' Dist. Percorrida: 0 mn
Vento: ENE 4 nós Mar: ondas de 1,5m ENE, com marolas
Motor: 00,0h Corrente: 2 nós lateral
Dist. costa: 00 mn Prof: 4,2 m

Mais uma pancada de chuva

Saímos no estofo da maré enchente e encontramos ondas de 2-3 m de proa nas últimas bóias do canal de entrada. Rumamos umas 40 milhas para nos afastarmos da costa e então tomamos nosso rumo de 315º. Várias nuvens de chuva, mas nos safamos apenas com poucos pingos. O vento fraco no inicio aumentou para 15-16 nós, com o mar mexido. Na madrugada entramos em águas do Suriname. Pela manhã uma plataforma de petróleo por boreste, não assinalada na BlueChart 2008.


24H

Hora/Dia: 12:15 16/12/10 Rumo: 315º
Posição: N 07º06.639' W 054º12.258' Dist. Percorrida: 163 mn
Vento: NE 13 nós Mar: ondas de 0,8m ENE com marolas
Motor: 04,7h Corrente: 1,2 nós
Dist. costa: 84 mn Prof: 83 m


Finalmente um peixe, este Bonito

A noite foi de muitos pequenos temporais, como os Pirajás da costa nordeste do Brasil, com o vento aumentando até 25 nós. No final da tarde finalmente pegamos um peixe. Conseguimos uma linha mais grossa em Kourou e desta vez trouxemos um Bonito de barriga listrada de 3-4 kg. No final as guelras do bicho rasgaram e ele escorregou da plataforma de popa para o mar. A noite entramos no través da costa da Guyana.


48H

Hora/Dia: 12:15 17/12/10 Rumo: 315º
Posição: N 08º47.967' W 056º39.057' Dist. Percorrida: 178 mn
Vento: ENE 15 nós Mar: ondas de 0,6 a 1,0m de NE, com marolas
Motor: 01,7h Corrente: 1,6 nós
Dist. costa: 145 mn Prof: 2978 m

Um entardecer a muitas milhas de terra]

Continuamos a maior parte do tempo com bom vento, só que orçando mais. Adernardos e sacolejando mas rendendo bem desde a noite anterior. Batemos o recorde de singradura da travessia. A noite sempre colocando o primeiro rizo na mestra.


72H

Hora/Dia: 12:15 18/12/10 Rumo: 305º
Posição: N 10º29.075' W 058º49.673' Dist. Percorrida: 159 mn
Vento: E 10 nós Mar: ondas de 0,8m de ENE, marolas
Motor: 03,9h Corrente: 0 nó
Dist. costa: 149 mn Prof: 1369 m

Muitas chuvas espersas, várias vezes nos pegando. O vento dimunuiu bastante e pela primeira vez tivemos que motorar para não cair muito a média que de 7,3 caiu para 7 nós. de bom que o mar baixou para 0,3 m e o conforto a bordo aumentou muito. A tarde deu peixe novamente: uma femea do Dourado que aqui é chamado de Mahi-mahi de uns 2 kg que foi limpo e guardado para ser comido em Tobago.

O Dourado sendo içado a bordo

Chegada (91H15M)

Hora/Dia: 07:30 19/12/10 Rumo: 199º
Posição: N 11º19.627' W 060º33.126' Dist. Percorrida: 120 mn
Vento: SE 3 nós Mar: liso e abrigado
Motor: 12,6h Corrente: 0 nós
Dist. costa: 0,4 mn Prof: 19,5 m

Ancoramos na protegida baía Man O' War em frente a pequena cidade de Charlotteville na costa noroeste de Tobago. Na ancoragem cerca de 15 veleiros com os brasileiros Luthier, Irun e Temujin. O Utinam chegou no inicio da noite e o Flyer na segunda de manhã. O Temujin foi para Trinidad ainda no domingo e o Luthier para Granada na terça-feira.

Chegando em Charlotteville, no domingo cedo

No total foram 1690 milhas náuticas e 263H35M (ou 11 dias) de travessia, divididos em 3 pernas, com uma média de 153,6 mn/dia. Só tivemos 9 horas de calmaria e 65 horas de condições mais pesadas de mar e vento. Uma ótima travesssia!

Mais fotos em www.picasaweb.google.com/lflbeltrao/travessiacaribe2010
Videozinho da pesca do Bonito em http://www.youtube.com/watch?v=-Q9yLqoabEE

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Iles du Salut e Kourou- Guiana Francesa

As Iles du Salut, também conhecidas como Iles du Diable, são três ilhotas agrupadas a 7,5 mn da costa da Guiana Francesa, em frente a cidade de Kourou, onde está a base de lançamentos de foguetes do consórcio europeu Ariane. A ilha principal é a Royale (28 ha) e as outras, menores, a Saint Joseph (20 ha) e a Diable (14 ha). Usadas pelo governo central da França como presídio, no período de 1852 a 1947, ficaram mundialmente conhecidas pelo livro e filme Papillon, que conta a passagem por elas do presidiário Henri Charriére.

Mapa com as ilhas no museu

Hoje são uma atração turistica da Guiana, abertas a visitação, a excessão da Ile du Diable. A principal, Royale, possui um museu, um hotel com bar e restaurante e as ruínas das várias instalações do presidio e sua estrutura.

A amcoragem na Ile Royale

Ficamos ancorados na enseada protegida da Ile Royale 2 dias. Juntos o veleiro alemão Bomika, que lá já se encontrava, mais o Utinam, o Temujin que chegou na madrugada de sábado (11/12), Polaire e Flyer que chegaram pela manhã. No domingo chegou o Seagull. Bem protegida, mas no sábado a noite entrou um perrengue, sabe aqueles que vem do único lado não protegido, e vários barcos garraram, inclusive o nosso.

Ruinas de um dos pavilhões do presídio
Na segunda cedo (13/12) nós, Utinam, Flyer e Seagull seguimos para Kourou, entrando na bem sinalizada barra do rio de mesmo nome com certa facilidade. A profundidade no canal de entrada fica em torno dos 4 m na maré cheia. Em Kourou abastecemos o barco com alguns mantimentos, gasolina para gerador e água. E ótimos vinhos franceses a preço de vinho nacional. Podemos finalmente acessar a internet e nos comunicarmos com o mundo novamente. Acabamos por ficar um dia a mais, só saindo no dia 15.

Entrada da Ville de Kourou

A galera na internet

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Vida à Bordo Numa Travessia

Numa travessia oceânica de cerca de 1700 mn como a que estamos fazendo desde Fortaleza até o Caribe, no veleiro Guga Buy, vivemos muitos dias sem avistar terra, sequer pisá-la. Poderia dizer que temos dois tipos de dia: os com mar e/ou vento próprios e os com mar grosso e/ou vento duro.

No primeiro caso, como foi a nossa perna da Ilha dos lençóis até as Iles du Salut, é agradável. De inicio estabelemos os turnos. No nosso caso com quatro tripulantes fazemos turnos de 2 horas, permitindo 6 horas de intervalo entre eles para descanso. O veleiro é ajustado na rota, as velas são dimensionadas e ajustadas conforme as condições e então o piloto automático (ou em alguns veleiros o leme de vento) é quem toca o barco. O responsável pelo turno cuida de verificar a navegação, ajustar velas e verificar nos horizontes ao redor do barco a existência de outras embarcações, redes de pesca ou qualquer outro perigo a navegação.

Normalmente pela manhã estão todos acordados, tomamos café, conversamos, lemos, em horários pré-estabelecidos o comandante fala com outros veleiros pelo SSB (ou HF, o rádio de longo alcance) e sai "almojantas" caprichados pelo Cmte. José Zanella que também é um bom chef. Depois do almoço, que ocorre pelas 14-15 horas e já vale pela janta, a turma se dispersa. Como se isto fosse possível num ambiente exíguo como o de um veleiro. É que geralmente só fica o responsável pelo turno, no caso Eu que faço o turno das 15-17h, e os outros fazem a siesta. Nos turnos da noite fica só o do turno que vai chamando o próximo. Dá para observar as estrelas, pensar na vida, meditar... Em caso de alguma anormalidade, como para rizar ou trocar velas com o aumento do vento, o responsável pelo turno pede ajuda.

Na segunda perna foi possível fazer pão e até bolo de chocolate

Num veleiro dois itens são muito valiosos, ainda mais numa travessia longa, a água e a energia. A energia fornecida pelas baterias é suprida por uma placa solar e o alternador do motor, por isto precisamos motorar umas 2 horas diárias, mesmo com o uso controlado. Saímos de Fortaleza com cerca de 400 l de água nos tanques (fora a água para beber) e não sabíamos quando teríamos oportunidade de reabastecimento. Então era economia de guerra. Para banho uma garrafa pet de 2 l, com a tampa furada para servir de chuveirinho, e mais 1 l para higiene pessoal por cabeça. A louça é lavada na torneira a pedal que puxa água salgada direto do mar e rapidamente enxaguada na doce, também sem pressurização nas travessias.

O Guga Buy, como já dito aqui é um projeto do australiano Bruce Farr de 40 pés ou 12 m, possui um salão interno com sofás e mesa, onde ficam também a cozinha e a mesa de navegação. Na proa o BWC e um armário para roupas de tempo e a cabine do comandante. Na popa outra cabine de casal, do Eduardo, e do lado da cozinha uma pequena cabine onde estou instalado, a minha toca. O Luiz dorme no salão onde abaixando-se a mesa monta-se uma cama de casal.

A " toca"

No segundo caso, como foi a perna de Fortaleza a Ilha dos Lençóis, fica tudo mais complicado. O barco aderna e balança muito e tudo é muito desconfortável, até fazer as necessidades fisiológicas básicas fica difícil. É outro clima a bordo. Só se pensa em chegar logo e, as vezes, até aquele "o que é que eu estou fazendo aqui?". Mas, velejador tem memória curta para as coisas ruins, basta umas "geladas" no primeiro porto para esquecer tudo e querer velejar de novo...

Nas ancoragens sempre rolam confraternizações




segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Rumo ao Caribe - Perna 2: Ilha dos Lençóis - Iles du Salut

A segunda perna com 652 mn em nossa rota vai da Ilha de Lençóis até as Iles du Salut, na Guiana Francesa.


Saída

Hora/Dia: 07:35 06/12/10 Rumo: 335®
Posição: S 01®19.347' W 044®53.257' Dist. Percorrida: 0 mn
Vento: ENE 14 nós Mar: mexido, ondas de 2,0 a 3,0m de proa
Motor: 00:00h Corrente: 2 nós

A primeira passagem pelo Equador do Guga Buy
Saímos, nós e o Utinam, com maré vazante e ondas curtas de proa, lembrando as proximidades das Ilhas Ratones em Florianópolis com Nordestão. Avistamos um navio e vários pesqueiros. Pela primeira vez fomos visitados pelos golfinhos nesta travessia. As 03:12h cruzamos a Linha do Equador na posição N 00®00.000' W 045®52.124', comemorada com um brinde de espumante.

24H

Hora/Dia: 07:35 07/12/10 Rumo: 342®
Posição: N 00®44.137' W 046®10.327' Dist. Percorrida: 146 mn
Vento: E 15 nós Mar: ondas de 1,0 de E
Motor: 03:00h Corrente: 0 nó

O pesqueiro Carlos Alberto I

Por volta das 13:30h Virginie do Utinam nos chamou no VHF reportando a aproximação de um pesqueiro. Ela estava 11 mn atrás. Retornamos a motor a tempo de ver o pesqueiro Carlos Alberto I e manter contato, via rádio. O mesmo alegou querer saber para onde íamos e afastou-se. Provável que sem má intenção, mas como diz o ditado "a ocasião faz o ladrão". Por cautela resolvemos passar a acompanhar o Utinam de perto. O mar tem se mantido baixo com meio metro de marola e vagas que variam vezes entre 0,5 e 1,2m. O vento vai de 10 a 15 nós, como sempre crescendo no final da tarde até a madrugada. Velas grande sem rizo e genoa aberta. Após o episódio do pesqueiro a genoa enrolada conforme a necessidade para que o Utinam nos acompanhe. Muito tranquilo. Quatro visitas rápidas de golfinhos e dois cargueiros no horizonte. Vez que outra um pesqueiro. A corrente ainda não nos ajuda, pois está transversal ao nosso rumo.


48H

Hora/Dia: 07:35 08/12/10 Rumo: 340®
Posição: N 01®19.167' W 047®36.359' Dist. Percorrida: 120 mn
Vento: E 15 nós Mar: ondas de 0,5 de E
Motor: 02:20h Corrente: 0 nó

Os golfinhos nos visitaram várias vezes
Finalmente a corrente sul equatorial começa a nos ajudar. Foi chegando devagar e à noite já era de aproximadamente 1,8 nó. Pela manhã passamos por dois pesqueiros ancorados. Mais tarde fomos contatados no VHF pelo pesqueiro Dona Luiza, fora de nossa visão, de Bragança do Pará. Há 11 dias no mar na faina da pesca de Pargo, com covo (espécie de armadilha). O mestre e o comandante trocaram informações e amabilidades. Nosso piloto automático após mais de 2 dias de funcionamento perfeito começou a desarmar. Nada que Eduardo "McGeiver" não desse jeito. Mesmo assim aproveitamos para dar uma timoneada por algumas poucas horas, dando um descanso ao piloto. Pelo meio da tarde um cargueiro cruzou nossa proa a umas 5 mn. Ás 16:40h completamos a metade do percurso. Graças a um bom vento à noite nossa singradura foi a maior desta perna.



72H

Hora/Dia: 07:35 09/12/10 Rumo: 338®
Posição: N 03®25.880' W 049®22.717' Dist. Percorrida: 147 mn
Vento: NE 8 nós Mar: ondas de 1,8 a 2,2m, marolas de 0,5 de E
Motor: 03:00h Corrente: 1,8 nó

Navio de containers por boreste

Na marca de 3 dias de travessia estávamos no través da foz do Amazonas, a 132 mn de terra. Corrente agora nos empurra sempre. A tarde um navio container em rota de colisão conosco desviou. O vento aumentou ao anoitecer para os costumeiros 15 nós, mas na madrugada chegou aos 22 nós, por pouco tempo, mas foi necessário fazer o primeiro rizo na grande e sem genoa. Ao amanhecer avistamos outro veleiro na posição 40® BE e também tivemos a primeira chuva de toda a travessia. Mas foram menos de 10minutos.


96H

Hora/Dia: 07:35 10/12/10 Rumo: 293®
Posição: N 05®05.287' W 051®24.635' Dist. Percorrida: 160 mn
Vento: E 14 nós Mar: ondas de 1,8 a 2,2m, marolas de 0,5 de E
Motor: 02:00h Corrente: 2 nós
Dist. costa: 37 mn Prof: 66 m

Eduardo içando a primeira bandeira estrangeira

Completamos 4 dias logo após passarmos pelo través do Cabo Orange. Entramos em águas internacionais da Guiana Francesa. Cruzamos próximo a um pesqueiro arrastando rede próximo a hora do almoço. Logo após o almoço fomos visitados por dezenas de golfinhos que ficaram muito tempo nos acompanhando,


Chegada (107H)

Hora/Dia: 18:35 10/12/10 Rumo: 0®
Posição: N 05®17.112' W 052®35.317 Dist. Percorrida: 79 mn
Vento: E 2 nós Mar: liso com leve ondulação
Motor: 02:10h Corrente: 2 nós
Dist. costa: 7,5 mn Prof: 5,2 m

Ancoramos entre duas das Iles du Salut, a ilha do antigo presídio (a Royale). As ilhas ficam a 7,5 mn da costa em frente a cidade de Kourou, na Guiana Francesa.

As Iles du Salut, na Guiana Francesa

A Ilha dos Lençóis

Ao contrário do que somos levados a crer a Ilha dos Lençóis não fica na região dos Lençóis Maranhenses, mas sim na região das Reentrâncias Maranhenses, na costa oeste do Maranhão a 160 km em linha reta de São Luiz. A semelhança são as dunas, lindíssimas, e os lençóis formados na época das chuvas entre estas dunas, que eles chamam de morraria. São inúmeros braços de mar que formam muitas ilhas e igarapés, as reentrâncias, com dunas, baixios e manguezais.

A vila da Ilha dos Lençóis vista das dunas

A ilha, que pertence ao município de Cururupu, possui uma pequena vila de pescadores com casas de palha e madeira, pois periodicamente é preciso mudá-las de lugar. Luz elétrica de geradores, um telefone público, escola, posto de saúde, sem estrada e automóveis, sem celular e sem internet, bem como água encanada e quase sem TV pois poucos podem adquirir antenas parabólicas.

A beira mar da Ilha dos Lençóis

A água é retirada de poços cavados na areia próximo as casas ou do pé das dunas, onde é límpida, saborosa e de boa qualidade, segundo o medidor do pessoal do veleiro alemão Bogomil.
Outras duas características da região é o grande número de uniões consanguíneas, que provocam o nascimento de muitos albinos. E a grande amplitude das marés, de 5 a 6 metros podendo chegar a 8 m, o que regula a vida. Na vila de Bate Vento por exemplo não se chega nem se sai na maré baixa.

O Guga Buy na Ilha dos Lençóis

Já existem três rústicas pousadas para atender o incipiente turismo. A última edição da revista ViajeMais tem uma reportagem sobre a ilha. Mas ela é muito mais rústica do que a mesma transparece. Veja abaixo as duas melhores pousadas.

Pousada Serafim, a melhor da ilha

Quarto da Pousada Maiaú

Existe muita rivalidade entre a comunidade da Ilha de Lençóis e a de Bate Vento localizada na vizinha Ilha de Maiaú. O que não impediu que o Hélio de Bate Vento casasse com uma moça de Lençóis, para onde mudou e montou uma pousada, mas com o nome de sua ilha natal Maiaú.

A rua principal de Bate Vento

Além da exuberante beleza selvagem, quase intocada da região, um espetáculo imperdível ocorre no final da tarde quando bandos de Guarás chegam para passar a noite nas árvores na beira do manguezal. Fomos observar e realmente é imperdível, a cor destes pássaros é maravilhosa. Na volta o motor do botinho parou e não conseguíamos vencer a forte correnteza da maré vazante. Foi preciso ir para a margem e se atolar no lodo fofo até o Dorival, do Luthier, nos rebocar. Ficamos conhecendo a famosa "areia movediça" dos filmes...

Os Guarás voltam todo final de dia para as mesmas árvores

Nos cinco dias que passamos lá (três dias teriam sido suficientes) conhecemos muitos nativos, um povo gentil e de boa índole (não existe polícia na região). A Venda do Mário, no waterfront, como dizem os americanos, é a maior da região e além de venda é bar e serve refeições por encomenda. Comemos muito camarão, peixe e caranguejo comprado dos pescadores, no Mário e na Venda do Vavá.

Os veleiros na protegida ancoragem

Rumo ao Caribe - Perna 1: Fortaleza - Ilha dos Lençóis

Acabamos saido somente no domingo (28/11) às 09:30h da Marina Park Hotel em Fortaleza, agora sim rumo ao Caribe. Junto conosco sairam o Luthier, do Dorival e Catarina, o Utinam, da Virginie, e o Bogomil, de um casal alemão. O Bulimundu, com o John, Saul Capella e o Júnior, saiu no inicio da tarde de sexta-feira (26/11). Travessura saiu na segunda direto para o Caribe e o Flyer e Temujin somente na terça-feira.

Saindo de Fortaleza rumo ao Caribe

São quase 1700 mn até Chaguaramas, em Trinidad & Tobago, nossa primeira parada no Caribe. A travessia foi dividida em 3 pernas. A primeira perna vai de Fortaleza até a Ilha dos Lençóis, na costa oeste do Maranhão, com 426 mn em nossa rota.


Dados da saída:

Hora/Dia: 09:30 28/11/10 Rumo: 335®
Posição: Dist. Percorrida: 0 mn
Vento: ESE 18 nós Mar: mexido, ondas de 1,5 a 2,3m NNE
Motor: 00:00 h Corrente:0

Um saveiro maranhense pescando em mar aberto

Saímos com a mestra no primeiro rizo e a genoa 1 com 1/3 enrolada. Durante o dia e com nossa mudança de rumo as ondas passaram a aleta de BE e popa. Vimos luzes de pesqueiros à noite e saveiros maranhenses durante o dia, um navio ao largo. Passamos pelo través de Luís Correa (PI) por volta das 16h.O vento esteve entre ESE e E e sempre entre 14 e 20 nós de dia e na noite aumentando até 27 nós. Tivemos problemas com o piloto. Na noite temos mantido apenas a genoa com parte enrolada.


24h


Hora/Dia: 09:30 29/11/10 Rumo: 305®
Posição: S 2,0641 W 040,53705 Dist. Percorrida: 159 mn
Vento: E 19 nós Mar: mexido, ondas de 1,0 a 2,0m NNE
Motor: 02:00h Corrente: >1 nó

O mar esteve sempre mexido e alto

Vento sempre no mesmo regime. Mar mais desencontrado e maior, bastante desconfortável. A tarde, no través de São Luiz, passou próximo a nossa popa um navio de transporte de minérios. A noite com o aumento do vento quebrou uma peça do piloto e trouxemos no braço as últimas 5 horas. Nesta perna a singradura do barco, principalmente pela manhã, provocava o vôo de muitos pequenos peixes-voadores, com alguns aterrissando em nosso convés.


48H


Hora/Dia: 09:30 30/11/10 Rumo: 303®
Posição: S 1,49553' W 043,19138 Dist. Percorrida: 162 mn
Vento: E 20 nós Mar: mexido, ondas de 2,0 a 3,0m E
Motor: 02:30h Corrente: >1,2 nó

Navio de minério passa por nossa popa no través de São Luiz

Chegada (65H20M)

Hora/Dia: 03:20 01/12/10 Rumo:0®
Posição: S 1,34726 W 044,89624 Dist. Percorrida: 105 mn
Vento: E 19 nós Mar: mexido, ondas de 1,8 a 2,5m E
Motor: 05:30h Corrente: 1 nó

Chegamos e percorremos os pontos fornecidos pelo Ademir "Gigante" do Entrepolos, mas por segurança ancoramos mais na ponta sul da ilha, a Ponta do Gino. Pela manhã, com a maré enchendo e informações dos pescadores nativos, mudamos e ancoramos na posição S 01® 19.347' W 044® 53.257', onde o calado é de 3,4 m na maré baixa, protegidos pela maior duna da ilha.