quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Boats Show ou Veleiros x Lanchas

A todo boat show nos grupos de velejadores vem a reclamação da falta de veleiros nestes eventos. Se os há são muito caros, já conhecidos e assim por diante.

A parte simples é que vivemos numa sociedade de consumo e quem promove estes eventos o faz para ter lucro. O custo para se expor também é uma questão de mercado. Há mais lanchas porque vende mais, vendendo mais tem escala e tem concorrência, o que obriga melhoria de processos e tecnologia na produção, e ferramentas "agressivas" de comercialização, resultando num custo comparativamente menor. Veleiros como vendem pouco não tem escala, tem pouca concorrência, pouco investimento em melhoria de processos e tecnologia, escassas condições para comercialização. Quem já visitou fabricantes de veleiros e de lanchas sabe muito bem do que estou falando. É o profissional versus o amador.

Estes dias estava numa roda com o projetista Márcio Schaefer (dono da Schaefer Yachts), aqui no Veleiros da Ilha, e alguém perguntou porque êle não projetava mais veleiros. (Para quem não sabe o Márcio veleja desde pequeno, é formado na Argentina, onde estagiou com os principais projetistas de lá e começou projetando veleiros, como o consagrado Schaefer31). A resposta dele foi de que não há mercado de veleiros no Brasil. Não para onde êle chegou depois que começou a projetar e fabricar lanchas.

Hoje temos apenas três estaleiros com alguma produção e variedade de modelos (Delta Yachts, Flash e Skipper). Só na Grande Florianópolis existem mais de dez estaleiros que fabricam embarcações a motor (e mais nenhum a vela), sendo que pelo menos seis deles tem podução maior que qualquer um dos construtores brasileiros de veleiros.

O complexo é quebrar este paradigma. Saber porque veleiros vendem pouco. A meu ver um grande fator é o cultural. Não temos a cultura da vela. Moramos num país tropical e não gostamos do vento na cara. Para muitos, que conseguiram o sucesso financeiro, a lancha é um grande simbolo de status, onde o importante não é curtir, mas ser visto. Bem, eu prefiro ser este bicho exótico: velejador.

(Foto de Andreas Willecke, do veleiro Mood Indigo).

Nenhum comentário: