segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Pela Primeira Vez na Intracoastal Waterway

Saímos da Marina Sunset Bay, em Stuart (Fl), às 7:45 da sexta feira (22/08) depois de encher os tanques de diesel do Mattina (futuro TinguaCat) para levá-lo até a cidade de Melbourne, 70 mn ao Norte, às margens da IntraCoastal Waterway (ICW). Na tripulação os amigos John Vieira, comandante dos veleiros Bulimundu (atualmente em Bocas del Toro, Panamá) e Morabeza (em Floripa), e Carlos, português morador de longa data nos EUA, amigo do John.

A ICW é uma via interior ao Oceano Atlântico com cerca de 3.480 milhas náuticas, entre Cape Ann, norte de Boston, e Browsville, na divisa do Texas com o México. Muita gente pensa que a ICW seja só o trecho Norfolk's Hospital Point (Virginia), oficial "mile 0", até Miami's Biscayne Bay, num total de 955 mn. Interessante que a milha utilizada na marcação oficial é a statute mile (a milha rodoviária britânica) igual a 1,609344 km. Em toda esta extensão é mantido um canal sinalizado e dragado com 12 pés de profundidade por rios paralelos a costa, lagos e trechos de canais artificiais. As pontes fixas possuem 65 pés de vão livre (clearance) e as demais possuem sistema de abertura para a passagem das embarcações. Exceção a Turtle Bridge, em Miami, com 56 pés obrigando barcos com maior altura a desviar, saindo e voltando no Atlântico num pequeno trecho.

Além das cartas Navionics no Raymarine E80 do barco e no iPad (onde fiz a rota com 80 waypoints, ainda no Brasil), tinha um Garmin 78CSx e o CruiseGuide for the Intracoastal Waterway de Mark e Diana Doyle, no iPad. 

O canal demarcado nas cartas náuticas


Página da seção "mile-a-mile" do guia

Tínhamos duas pontes fixas pela frente. Ambas open on demand, isto é chama-se o operador pela canal 09 do VHF e ele abre para a passagem. A primeira logo na saída da marina, ainda no St. Lucie River. Na verdade são três pontes lado a lado, uma rodoviária baixa, uma ferroviária baixa e outra rodoviária com os 65 pés. Demorou 30' esta passagem porque chegamos bem na hora de passar uma composição ferroviária. A ponte ferroviária é mantida aberta e só fecha quando da passagem de trens. Lodo após passarmos a ponte tocou o alarme de aquecimento do motor de bombordo. Eu havia substituído o filtro da entrada da água de refrigeração, pois o antigo proprietário havia quebrado acidentalmente o bico de encaixe de uma das mangueiras. A refrigeração não estava funcionando direito em baixa rotação ainda. Depois de um tempo voltamos a ligá-lo e trabalhou bem até o final da viagem.



 As pontes fixas com a sinalização do clearance

O Lagoon380 tem 17,32m de clearance, o que dá 56,82'

Só entramos na ICW mesmo, cerca de 8 mn a frente, quando ao invés de seguirmos reto (Leste) para a barra do St. Lucie com o Atlântico, dobramos à esquerda (Norte) para o Indian River que corre paralelo a costa. Neste ponto a água é caribenha e vimos vários peixes enormes (de até 2m) que entram na barra para se alimentarem. Mas ainda não estávamos pescando...

Carlos pegou 2 pequenos Pampos e uma Anchova (?) maior

Na ICW o canal dragado e mantido com os 12 pés de profundidade é todo muito bem sinalizado. No rumo Norte seguimos como que saindo de um porto, isto é boreste com boreste (verde com verde). O canal demarcado em geral é estreito (suficiente para duas embarcações de médio porte se cruzarem) e em muitos pontos  basta sair dele para  a profundidade cair para 2-4 pés. É preciso estar atento ao canal o tempo todo. Estamos no verão aqui mas a alta temporada é o inverno quando hordas de americanos do norte e canadenses descem para fugir do frio, então o movimento era de poucas lanchas e jet skys.

 A sinalização num trecho entre ilhas

Para cumprirmos o objetivo de chegarmos ao destino por volta das 19h precisávamos manter uma média de pelo menos 6,5 nós por hora. Na ICW não tem onda, a não ser as marolas das lanchas que passam, mas tem correntes de maré. E elas nos foram favoráveis em poucos trechos, quando andávamos a mais de 7 nós, mantendo nossas 3000 rpm em cada motor.

A segunda ponte fixa foi uma das duas em frente a cidade de Fort Pierce, que tem uma das principais barras de saída para o Atlântico da região. Nesta praticamente não perdemos tempo, nem esperamos, apenas reduzimos a velocidade.

A N Fort Pierce Bridge abrindo para nós

Não velejamos. É possível em vários trechos ou até em todo usando principalmente a Genoa, mas tivemos pouco vento e quando soprava era quase de proa e muito irregular na intensidade. Próximo ao destino quando o canal é mais largo e a profundidade se mantém até as margens tivemos vento de través mais constante.

Chegamos em Melbourne, na Waterline Marina proximo às 19h. O TinguaCat ficara aqui pelos próximos quatro meses, sendo que eu estarei vivendo a bordo e fazendo um curso de inglês nos primeiros dois meses. A marina fica numa área bem protegida, como que um pequeno lago, formado pela junção de dois rios antes de desembocarem no Indian River, chamada Elbow Creek.

TinguaCat atracado em seu novo porto

Navegar pela ICW é diferente, com partes bem largas outras mais estreitas, paisagens bonitas, cidades, marinas, belas casas e até usinas térmicas nas suas margens, montes de ilhas e ilhotas, algumas com belas prainhas e  lindos "cantinhos" para se ancorar. Não há nada igual no Brasil, apenas os Canais de Bertioga e Varadouro guardam alguma semelhança.


 Esta é Farm Grant Island

Até Linha de Transmissão de energia na paisagem

Quero agradecer a companhia e ajuda do John e Carlos que vieram de Boca Ratón para me acompanhar.

Veja mais imagens aqui.

2 comentários:

Luiz e Mauriane disse...

Como sempre seu relato nos leva a navegar contigo amigo! Bons mares sempre a familia TinguaCat!
Abraços
Luiz e Mauriane

Anônimo disse...

Que legal Luiz, naveguei contigo na história, bons ventos, grande abraço!
Peter