quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Alguns Dias no Kyriri-ete

No último dia 17/10 embarquei no Kyriri-ete (Multichine28), do amigo Giovani Dal Grande, que estava na bela sede do ICRJ, na Praia Grande em Angra dos Reis. Enquanto eu chegava nosso amigo Saul Capella Neto estava desembarcando. Foram nove dias pela Ilha Grande e Paraty.


 O Kyriri-ete na ancoragem do Abraão

A primeira parada foi na Tapera do Sitio Forte para entregar a Telma (do Restaurante Recanto dos Maias) a encomenda que trouxe de Floripa: duas dúzias de ovos de Faisão, de quatro espécimes diferentes, enviados pelo pai do Giovani, para incrementar sua criação. A caminho do Abraão estivemos na Lagoa Azul, onde nadamos e almoçamos. No Abraão pegamos 2,5 horas de forte Sudoeste, na madrugada de terça-feira (22/10). As rajadas chegaram na casa dos 40 nós. Jogamos mais de 40 m de corrente e uma segunda âncora e o Kyriri segurou bem. Já um BB36 ancorado próximo a nós, com tripulação de argentinos, garrou feio e teve a genoa de enrolar esfarrapada. Pelas 8h da manhã entrou outra pauleira que durou só uns 20 minutos. Suspendemos âncora e velejamos num contra vento até Jurumirim, com vento SW variando de 8 a 14 nós. Deu até para experimentar a nova trinqueta, que havíamos acabado de instalar na parada do Sitio Forte.


Nas ruínas do Aqueduto, na Ilha Grande

Em Paraty aproveitei para ver um Lagoon380 à venda e o CatFlash35 Synapse, recentemente testado pela Revista Náutica, sobre o qual quero fazer um post. Enfim, deu para curtir um pouco da região (já que este ano não levamos o Tinguá para lá) e a hospitalidade do Giovani.

Traineira Bruguilu III de quem compramos camarões

Mais imagens aqui.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Sérgio Marques - Construtor de Catamarans

Na minha estada em São Luís do Maranhão conheci Sérgio Marques, um construtor de catamarans. Muito mais, Sérgio é um estudioso, conhecedor e apaixonado por estes barcos. O mar e os barcos só entraram em sua vida quando aos 18 anos foi num barco à vela conhecer a Ilha dos Lençóis. No ano seguinte já encomendaria seu primeiro pequeno catamaran ao construtor João Bastos.

E não parou mais. Autodidata obstinado e com espírito de cientista, mesmo sem formação específica na área, foi aprendendo na teoria e na prática, com muita experimentação, solucionar problemas como locação do centro vélico, estabilidade longitudinal, compensação dos lemes, resistência dos materiais, cortes de velas. Aprendeu a fazer velas e acabou por montar uma veleria para atender a demanda do primeiro grupo de velejadores amadores da comunidade. Em 1987 fundou um pequeno estaleiro para construir seu primeiro projeto o catamaran Taaroa 750, de 7,50 m, em strip planking de cedro/epóxi/fibra de vidro, fato inédito na região. Assim surgiram vários modelos de Taaroas e mais recentemente a linha BV, do seu estaleiro e veleria Bate Vento Sailmaker & Catamarans. Os catamarans projetados e construidos por Sérgio na Bate Vento desmistificam o mito de que multiscascos não conseguem ter um bom rendimento contra o vento. A mastreação e o sistema vélico, o uso das bolinas e a leveza da estrutura dos BVs  demonstram na prática o desempenho que os multicascos podem atingir.



 Sérgio (calção amarelo) coordenando os últimos ajustes num BV36 recém concluido

Para conhecer melhor esta figura admirável recomendo ler seu livro "O Morubixaba na Rota dos Navios Negreiros" que narra uma viagem sua com a esposa e mais dois amigos ao Caribe, iniciada após o Natal de 1998, a bordo do Taaroa900 (31 pés) Morubixaba, de sua propriedade e construção.




quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Os Estaleiros de Catamaran do Maranhão

O principal motivo da minha visita a São Luís do Maranhão foi para conhecer os estaleiros que lá fabricam catamarans. Como comentei no post Os Catamarans do Maranhão a produção destas embarcações vem se desenvolvendo muito por lá, na tecnologia de construção, nas características técnicas que propiciam maior desempenho, na navegabilidade e no acabamento e conforto de seus interiores. Este último item vem sendo fomentado pelo mercado comprador, atualmente mais concentrado na Bahia e Pernambuco. Visitei os três maiores estaleiros, que conseguem tocar a construção de várias unidades ao mesmo tempo. No entanto, existem vários pequenos construtores navais individuais que constroem sob encomenda projetos próprios ou de terceiros

O construtor naval Gaudêncio e seus filhos constroem atualmente os catamarans denominados Pérola38, como o nome diz de 38 pés de comprimento. A meu ver são os que conseguiram o melhor leiaute interno. No entanto, o estaleiro não tem evoluído nas técnicas construtivas construindo seus barcos utilizando a metodologia strip-planking para as obras vivas (embaixo da linha d'água) e chapas de compensado naval fibradas nas demais partes e mastros de madeira. Também, considerei que as modificações são introduzidas mediante cópia de outros modelos, sem nenhum estudo mais aprofundado do resultado em termos de navegabilidade, confiabilidade e até segurança. Durante nossa visita haviam quatro Pérolas38 em construção.

Pérolas38 em construção no Estaleiro Gaudêncio

Os Pérola38 tem as "bananas" mais largas

O Estaleiro Maramar Náutica é o que possui maior estrutura em instalações. Fabrica os modelos Praia nos tamanhos de 28, 30 e 47 pés e, agora, também um modelo de 34 pés derivado do sucesso de vendas Praia30. Bem organizado, com uma boa estrutura administrativa encontramos em construção dois Praia47, sendo um sem velas para charter, e o outro o barco do velejador Fernando Previdi e mais dois Praia30. Os barcos são construidos em fibra de vidro com espuma de Divinycell a partir de moldes (formas). O estaleiro fabrica ainda embarcações à motor.

 Praia30 em fase final, na Maramar Náutica

O gigante Praia47 em construção, na Maramar

O terceiro estaleiro é o Bate Vento Sailmaker & Catamarans, do velejador e construtor naval Sérgio Marques. Sem dúvida é o de maior avanço técnico e o que "puxa" o desenvolvimento deste segmento. O estaleiro, que também tem uma veleria, começou com a linha Taaroa e um modelo de 7,50 m. Hoje produz a linha BV com modelos de 26, 36, 43 e, em lançamento, um 45 pés com fly. A Bate Vento utiliza moldes para a construção em fibra de vidro com espuma de Divinycell, técnica na qual Sérgio é mestre obtendo barcos fortes, confiáveis e com baixo peso relativo. No dia seguinte a nossa chegada colocaram na água o BV36 Papangu, que vai para Recife, e tinha no estaleiro um 36 só a motor e quatro 43 em construção.

Um BV43 em construção, no estaleiro Bate Vento

Formas dos diversos modelos, no Bate Vento

 No interior de um BV43

Nos estaleiros mannhenses a construção  é totalmente artesanal e cada unidade fica diferente da outra, principalmente no seu interior, pois é praxe a customização das unidades por seus proprietários, que em alguns caos fazem as vezes até de projetistas. Outro fato que me chamou a atenção, apesar da grande quantidade de embarcações em fabricação (para os padrões brasileiros) leva-se de 1 a 1,5 ano para a entrega de um barco.
 
Mais imagens aqui. 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

12ª Regata Mormaii

A Regata Mormaii já é tradicional na Copa Veleiros da Ilha de Oceano. Normalmente disputada em Novembro neste ano ocorreu no sábado (05/10), valida pela 6ª etapa, com percurso de 30 mn deste o trapiche da Avenida Beira Mar Norte até a Praia de Bombinhas. Dia bonito e ensolarado com ventos do quadrante Sul de inicio com 10-14 nós, mais fracos após a Ponta de Jurerê e da metade em diante, já em mar aberto crescendo de 16 até 24 nós e ondas de até 2 m. 

 Logo após a largada

Acostumado que em todas as regatas que passam pela Baía Norte deixa-se a Ilha de Ratones Grande por Boreste segui por ali, mesmo ficando com pouco vento na sombra da ilha. Esta regra é colocada para não dar vantagem aos barcos de quilha retrátil que cortam caminho por cima da Banco da Daniela. Mas desta vez o Aviso de Regatas foi omisso e a maioria dos competidores deixou a ilha por Bombordo...

Durante a regata

Estávamos com a tripulação reduzida, somente quatro (Jorge Calliari, Érico Couto Jr., Leone Martins Jr. e Eu), e sem proeiro numa regata com muito vento de popa. A maioria da flotilha optou por seguir junto a costa enquanto nós optamos por orçar para fora arribando mais tarde para contornar a Ponta das Bombas, o que se revelou acertado quando o vento cresceu e passamos a andar mais rápido que todos os que navegavam grudados na costa. Infelizmente, o vento e o mar cresceram demais e pelo nosso través nos obrigando a arribar antes da hora e baixar o balão.


Já dentro da Enseada de Bombinhas (Foto de Cris Pessini)
 
Mesmo assim, concluímos a regata em primeiro na classe RGS Cruzeiro com o tempo de 05:07:38h, ficando em 2º lugar entre os 8 inscritos da classe. A premiação e confraternização aconteceram no Recanto do Marujo, a beira mar, num lindo final de tarde. Ótima regata, boa organização da Vice-Comodoria de Eventos do Veleiros da Ilha e calorosa recepção pela Secretaria de Esportes do Município de Bombinhas.


Local da premiação e confraternização

Jorge e Érico voltaram por terra. Leone e Eu dormimos a bordo, ancorados na Praia da Sepultura, e retornamos com o Tinguá no domingo cedo, com muito vento Sul pela proa.

Clip do esportesdomar.com.br
 
Mais imagens aqui e ali.
(Atualizado em 10/10/13 17:34) 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Os Catamarans do Maranhão

Os catamarans chegaram ao Maranhão na década de 60, do século passado, com Manuel "Português" que veio para lá numa dessas embarcações de sua fabricação, chamada Taaroa. Razão pela qual taaroa é usado como sinônimo de catamaran no Maranhão. Pois bem, Manélis, como é conhecido por lá, passou a velejar com seu catamaran e construir outros a semelhança ao longo do litoral maranhense. As principais características destes barcos eram os cacos em "V", revestidos com compensado naval, vigas maciças de madeira dura, envergando um mastro de madeira, geralmente bem alto, com velas de algodão ou algum brim, tipo Terbrim.


Alguns catamarans produzidos no Maranhão, na Ponta da Areia, São Luís

Lá as marés apresentam as maiores oscilações do país, chegando a variações de seis a oito metros e atingindo, às vezes, centenas de metros de recuo nas praias. Tal fato proporciona mudanças fantásticas nas paisagens, com rios e igarapés que secam completamente ou ficam com poucas dezenas de centímetros de lâmina d'água. Por isso os catamarans ganharam força na região. Os multicasco suportam esta situação de enchentes e vazantes com tanta frequência e navegam em aguas rasas. Um monocasco tradicional de quilha pode ficar comprometido ao tombar toda vez que a maré seca, além do incomodo e dos riscos desnecessários que o catamaran supera claramente por causa de sua estrutura.

De tal modo que a construção de multicascos prosperou na região. O Maranhão já possuia uma tradição na costrução naval de embarcações de madeira como canoas, escunas e as chamadas Costeiras, muito utilizadas na região no transporte de pessoas e mercadorias. Ainda hoje, estima-se em cerca de 550 os carpinteiros navais no estado. São em geral pouco letrados e aprenderam o ofício com os mais velhos, mas constroem embarcações de excelente navegabilidade. A construção dos multicascos foi sendo aperfeiçoada por estudos autodidatas, experimentações, "fazendo besteiras e depois corrigindo" como o próprio Manélis conta. Ficou famosa na região a frase do mestre carpinteiro Pedro Alcântara,  já falecido: " O barco é feito assim todo torto para andar direito na água".


Uma Costeira maranhense

Hoje se produzem catamarans com técnicas mais apuradas e modernas e características próprias que lhes conferem excelente desempenho nas condições meteorológicas da região, como em nenhum outro local do Brasil.

BV36 um dos modernos cataramans produzidos no Maranhão