quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Os Catamarans do Maranhão

Os catamarans chegaram ao Maranhão na década de 60, do século passado, com Manuel "Português" que veio para lá numa dessas embarcações de sua fabricação, chamada Taaroa. Razão pela qual taaroa é usado como sinônimo de catamaran no Maranhão. Pois bem, Manélis, como é conhecido por lá, passou a velejar com seu catamaran e construir outros a semelhança ao longo do litoral maranhense. As principais características destes barcos eram os cacos em "V", revestidos com compensado naval, vigas maciças de madeira dura, envergando um mastro de madeira, geralmente bem alto, com velas de algodão ou algum brim, tipo Terbrim.


Alguns catamarans produzidos no Maranhão, na Ponta da Areia, São Luís

Lá as marés apresentam as maiores oscilações do país, chegando a variações de seis a oito metros e atingindo, às vezes, centenas de metros de recuo nas praias. Tal fato proporciona mudanças fantásticas nas paisagens, com rios e igarapés que secam completamente ou ficam com poucas dezenas de centímetros de lâmina d'água. Por isso os catamarans ganharam força na região. Os multicasco suportam esta situação de enchentes e vazantes com tanta frequência e navegam em aguas rasas. Um monocasco tradicional de quilha pode ficar comprometido ao tombar toda vez que a maré seca, além do incomodo e dos riscos desnecessários que o catamaran supera claramente por causa de sua estrutura.

De tal modo que a construção de multicascos prosperou na região. O Maranhão já possuia uma tradição na costrução naval de embarcações de madeira como canoas, escunas e as chamadas Costeiras, muito utilizadas na região no transporte de pessoas e mercadorias. Ainda hoje, estima-se em cerca de 550 os carpinteiros navais no estado. São em geral pouco letrados e aprenderam o ofício com os mais velhos, mas constroem embarcações de excelente navegabilidade. A construção dos multicascos foi sendo aperfeiçoada por estudos autodidatas, experimentações, "fazendo besteiras e depois corrigindo" como o próprio Manélis conta. Ficou famosa na região a frase do mestre carpinteiro Pedro Alcântara,  já falecido: " O barco é feito assim todo torto para andar direito na água".


Uma Costeira maranhense

Hoje se produzem catamarans com técnicas mais apuradas e modernas e características próprias que lhes conferem excelente desempenho nas condições meteorológicas da região, como em nenhum outro local do Brasil.

BV36 um dos modernos cataramans produzidos no Maranhão


3 comentários:

Alexandre Oliveira disse...

Manoel português chegou ao Maranhão no início dos anos 70.

LFBeltrao disse...

Caro Alexandre,
Obrigado por sua leitura e informação. A minha afirmativa com relação da chegada de Mestre Manuel "Português" na década de 60 está baseada em minhas leituras sobre os catamarans no Maranhão. Cito aqui duas delas, que me recordo de pronto, a primeira no site http://www.brasilpassoapasso.com.br/blog/?p=38> “Após outras tentativas ele fugiu da ditadura de Salazar em 64 e, por ironia do destino, veio bater aqui no Brasil na ditadura de Castelo. Veio de catamarã com um amigo e aqui ficou." Outra à página 20 do livro O Morubixaba na Rota dos Navios Negreiros de Sérgio Marques ¨A introdução desse tipo de embarcação no estado foi influenciada por Manuel Português, que imigrou para cá nos anos sessenta e passou a velejar com seu catamarã e a construir alguns multicascos ao longo do nosso litoral.".

Moriel disse...

Só faço um ajuste, pois na verdade Seu Manoel chegou no Brasil num pequeno trimaran de 7m conforme depoimento próprio e também contato por Jorge Dino que entende bem da matéria.

Parabéns pela iniciativa de divulgação desta história.

bons ventos!