- Em Cabo Frio o Velamar 32 "Fratelli" e meu filho Pedro em sua primeira (e quase última) travessia a vela.
Bom dia amigos e amigas, hoje
escrevo porque sinto que tenho o dever de compartilhar com todos o que
aconteceu comigo, com meu grande amigo Fábio Collichio e com meu filho
Pedro na noite de sábado. Mais precisamente por volta da 12:06 de
domingo.
Fábio, meu melhor amigo em Cabo
Frio, companheiro de inúmeras velejadas de Micro 19 e o feliz
proprietário de um novo (para ele, claro) Velamar 32, o “Fratelli”, me
chamou para trazer o barco de Cabo Frio para o Rio neste sábado para
subi-lo no Clube Naval Charitas e fazer a pintura de fundo do veleiro,
que ele estava terminando de reformar. Convoquei meu filho Pedro, de 13
anos, para fazer sua primeira travessia no oceano e por volta de 7:30 da
manhã partimos do píer internacional de Cabo Frio.
Fábio havia me dito que soubera de
um aviso de mar grosso no Rio, que, por rádio, tentamos confirmar com a
atalaia de Cabo Frio, mas a moça nos disse que havia expirado, pois era
de 24 horas. Eu, como navegador que sou, havia estudado a previsão e
sabia que os ventos seriam de, no máximo, 14 nós, de E-NE, e haveria um
swell grande residual da grande tempestade que tinha passado 48 horas
antes pela costa do Rio. Mas nada muito preocupante já que tudo iria nos
empurrar para o destino final. Zarpamos.
A viagem, apesar de lenta, por
conta do casco sujo, dos ventos fracos no início e do motor que sempre
procuramos deixar em uma rotação mais baixa (havia sido reformado há
pouco), seguia tranquila. Pedrinho, depois da excitação inicial, como é
típico dos adolescentes, foi para a cabine dormir. E fora um ou outro
momento, passou boa parte do dia lá dentro, no sofá “da sala”,
cochilando o tempo todo.
Eu e Fábio nos revezávamos no timão
e assim foram passando as agradáveis horas do sábado nublado com sol
esparso. Fomos por dentro do Boqueirão, em Arraial do Cabo, o que é
sempre lindo. Pouco antes de Saquarema o vento aumentou e desligamos o
motor. Velejávamos com o vento pela popa a 5 nós de média (com picos
6,5) e como não tínhamos balão íamos ziguezagueando e jaibando para
manter o vento pela alheta e a velocidade por aí mesmo. Tudo seguiu na
paz dos deuses.
Já de noite, no contorno das ilhas
Maricás eu verifiquei a carta (nesta altura no Navionics do iPhone, pois
o iPad já estava sem bateria. E sim, tínhamos a carta em papel também e
outro GPS reserva) umas três vezes pois sei que à noite as distâncias
enganam e tal. Passamos a sotavento das ilhas (com o perigo à barla) e
seguimos com a proa em Niterói, nas ilhas do Pai e da Mãe. Nosso ETA
(hora prevista de chegada) estava por volta de uma da manhã na entrada
da baía de Guanabara. Normal.
Ao chegarmos às proximidades de
Piratininga o mar ficou mais mexido e mais desconfortável e resolvemos
ligar novamente o motor e baixar a genoa para ir só de grande e com o
possante, o que daria mais segurança e nos permitiria ir direto ao
ponto, sem jaibear ou manobrar muito. Claro que tivemos um probleminha
com a refrigeração do motor, mas Fábio safou tudo e lá fomos nós na boa.
Meu plano inicial era passar entre
as ilhas do Pai e da Mãe e ir direto para a boca da barra. Como o mar
estava bem chatinho, com o swell mais alto, resolvi entrar logo entre a
Mãe e o continente para ficar mais abrigado e aproveitar um pouco o
embate das ilhas. Além do mais, já havia corrido “trocentas” regatas que
montam o Pai e a Mãe, passara por ali dezenas (centenas?...) de vezes e
aquilo não era mistério algum.
Depois de mais de 16 horas
navegando, precisamente às 12:04, pois lembro que Fábio me disse as
horas (e depois verifiquei no celular), resolvi ligar para meu filho
mais velho, Gabriel, que fazia 25 anos no dia 8/12 e por tradição sempre
nos falamos logo depois da meia noite. O telefonema foi super
agradável, óbvio, e me lembro de ter dito a ele que: “só falta agora
montar a Mãe, dobrar a última esquina e depois baía de Guanabara e
casa”.
No meio da ligação Fábio me
interrompeu dizendo que vira uma rebentação e que parecia uma laje. Eu,
automaticamente e tirando onda (o arrogante sempre se ferra. E merece!),
respondi que já havia montado aquela ilha em regata um monte de vezes,
que tinha uma laje sim, mas que ele não se preocupasse. Gabriel ouviu
minha bazófia pelo telefone e também nem deu muita importância. Mas
aquilo ficou na minha cabeça. Sem perder tempo desliguei rapidinho e
comecei a olhar em volta.
Demorei talvez uns 40 segundos ou
um minuto para tentar me localizar, pois o celular, claro, havia me
distraído bastante. Estava perto demais da ilha? Da laje? Uma linha de
espuma a nosso bombordo confirmou. Estava do lado da laje!! Falei com
Fábio que estávamos ali, ele reclamou que havia me avisado, nem tive
tempo de responder. Guinei fortemente o barco para boreste. Neste
momento uma parede íngreme de água de quase 3 metros (havia sim um aviso
de ressaca no Rio e o swell vinha de 2 a 3 metros mesmo) nos pegou em
cheio pelo través (de lado certinho, a pior condição possível para
qualquer embarcação). Ainda sentimos que quando a onda sugou a água para
quebrar, nossa quilha deu uma batida seca na pedra no fundo. Tudo
apagou.
Na minha próxima lembrança já estou
embaixo d´água lutando contra cabos e velas (e também o mastro
quebrado, eu perceberia depois) para subir à superfície. Lutando pela
minha vida. Na minha cabeça esses foram intermináveis momentos de
angústia total. Lembro-me que só pensava: “eu não posso morrer aqui,
pois tenho que salvar meu filho que está dentro da cabine”. Para mim foi
uma eternidade a ponto de me lembrar de Horacinho Carabelli, dias
antes, no Match Race Brasil, me contando como Andrew Simpson morreu no
acidente do “Artemis”, na Copa América, preso embaixo do barco. O
terror! O horror!!
Não tenho a memória de como voltei a
bordo. Apagou. Mas me recordo de estar no cockpit novamente, na gaiúta
principal, gritando pelo Pedro. Ele tinha acordado na confusão e, ainda
atordoado, me perguntava o que tinha acontecido. Respondi que tínhamos
capotado, mas estava tudo bem. A água, dentro da cabine, estava na
cintura dele e demos a mão para que ele saísse. Nesta altura Fábio já me
ajudava a tirar o Pedro de dentro do barco e vi que estava tudo bem com
ele também. Graças a Deus!
Pusemos o menino sentado no
cockpit, imediatamente vestimos um colete nele, outros em nós e eu
expliquei que se tivéssemos que abandonar o barco iríamos nos amarrar os
três juntos e derivar para a praia de Camboinhas ou Piratininga em
frente (apontei as luzes) ou tentar subir na ilha ao lado. Por sorte,
não foi preciso.
O “Fratelli” era o próprio caos. O
mastro quebrado, caído para bombordo, uma zona total de cabos e estais, a
gaiutinha do topo da cabine estourada, uma rachadura grande no topo da
cabine à bombordo, outra no costado no encontro do casco e do convés, as
vigias de bombordo da cabine quebradas, o bimini retorcido e nós ainda
em cima da laje recebendo onda atrás de onda pela proa. Para piorar, a
noite nublada e, claro, as baterias mortas embaixo d´água, deixavam tudo
no breu total. E ainda tive tempo de ver nossa lanterna, acesa,
afundando.
Fábio entrou na cabine e percebemos
que a água não estava subindo. Vi que ainda tínhamos leme e tentamos,
no instinto (jamais daria certo, claro), ligar o motor. Amarrei outro
colete salva-vidas no Pedrinho e falei com ele que ficasse tranquilo,
pois a água era quente e poderíamos boiar horas sem problemas, se fosse
preciso. Meu filho me deu uma lição de bravura. Jamais entrou em pânico,
nos ajudou no que foi necessário, até nos consolou dizendo que estava
tudo bem e que ficaríamos bem também e disse que estava preparado para
fazer o que fosse preciso. Choro só de lembrar...
Pedro também, milagrosamente
(mesmo!), achou meu celular. Como, não sei. Pois acho que caí no mar com
ele na mão. Enfim. Peguei o telefone, que tinha uma capa à prova d´água
recém-adquirida para minha travessia do Atlântico, e liguei novamente
para Gabriel apesar dos 4% de bateria. Apenas 6 minutos depois do
primeiro telefonema (às 12:11, sendo que o primeiro telefonema durou um
minuto). Disse o que havia acontecido, nossa localização, a
possibilidade de termos que “abandonar o navio” e para onde iríamos
possivelmente e pedi que ele avisasse a Marinha, os bombeiros, Vanessa,
mãe do Pedro (com quem havia falado duas horas antes dizendo que estava
tudo ótimo), minha tia (que é minha mãe).
Fábio havia me mandando um SMS
antes de irmos, pedindo para eu levar meu VHF portátil à prova d´água.
Levei. Sorte! Logo que percebi que tudo estava relativamente bem, com
todos a bordo sãos e salvos, antes mesmo de tentar achar o celular, já
peguei o radinho e comecei a ladainha no canal 16: “mayday, mayday,
veleiro Fratelli capotado na laje da ilha da Mãe, 3 tripulantes a bordo,
uma criança, preciso de socorro imediato. Mayday, mayday”. Os minutos
de silêncio antes de achar meu telefone foram angustiantes. Nem uma
resposta sequer.
Claro que um rádio portátil tem um
alcance limitado, mas como explicar que uma hora depois eu falava alto e
claro, ainda do barco, com Rio Rádio por aquele mesmo aparelho e também
com a lancha da Marinha? Lembro que quase uma hora depois do acidente,
um cara identificado como Mar Dive fazia uma ponte desesperada no rádio,
gritando que nós precisávamos de socorro e que já havia passado muito
tempo, que tinha criança a bordo e ninguém respondia. Foi aí que a moça
da Rio Rádio entrou na fonia. Nesta altura, agradeci, disse que havia
falado com a Marinha e que uma lancha da capitania vinha nos resgatar.
Com o veleiro aparentemente não
fazendo água (ou muito pouca) eu e Fábio tentamos ajeitar as coisas a
bordo. Colocamos o mastro mais para cima e o amarramos para evitar que
ficasse batendo contra o casco. As ondas já haviam nos empurrado para
fora da laje e estávamos à deriva, bem no embate da ilha, indo para
fora. Resolvi lançar o ferro e ficamos ali, protegidos do vento e das
ondas, por mais de duas horas no fim.
Pouco depois das duas da manhã
tivemos a visão reconfortante das sirenes da lancha “Anchova” da Marinha
do Brasil. Pelo VHF consegui os orientar e eles vieram até nossa popa.
Passei imediatamente o Pedro e pela primeira vez pude sentir a dimensão
da tragédia que poderia ter acontecido ao meu filho. Mas não tínhamos
tempo a perder. Fábio, que havia posto sua roupa de neoprene (e até
catado os pés de pato para o caso de termos de nadar), voltou para
dentro da cabine para tentar resgatar nossas carteiras, mochilas, etc.
Paradoxalmente só conseguiu achar a minha e a do Pedro. Nada seu...
Ele não conseguiu localizar as
outras lanternas que estavam a bordo e a lancha da marinha não tinha uma
lanterna sequer. Tentamos jogar a luz do holofote da lancha para dentro
da cabine, mas estava tudo muito difícil com o mar mais batido. Com a
ajuda da “Anchova” rebocando tentamos trazer o mastro mais para cima.
Mas adiantou muito pouco e ainda serviu para afastar o barco da ilha e
deixá-lo mais desabrigado de mar.
O mestre da lancha (que soube
depois foi quem, no peito e na raça, mesmo com a impraticabilidade do
porto pelo aviso de ressaca, resolveu sair) nos avisou que sua missão
era salvar vidas e que devíamos abandonar o barco e ir. Foi o que
fizemos. Antes, porém, demos o máximo de cabo possível no ferro e
deixamos o “Fratelli” sozinho fundeado e avariado para trás. A visão
mais triste do mundo para mim e, especialmente, para o Fábio que tanto
esforço fizera para ter aquele barco e reformá-lo.
Na lancha, Pedrinho nos consolava e
nem a visão do seu Playstation e seu DS (o cara é viciado em games)
encharcados na mochila o atrapalhava. Um menino de ouro. Eu só conseguia
abraçar meu amigo e meu filho e pedir desculpas, desculpas, desculpas
pelo meu erro crasso e quase fatal para nós. Algo que um navegador digno
do nome (eu não sou!) jamais poderia ter cometido.
Chegamos por volta de 4 da manhã ao
píer do ICRJ onde Vanessa e os Gabrieis, meu filho e o marido de minha
sobrinha Juliana que havia trazido Vanessa, nos aguardavam. Viemos para
minha casa no Posto 6, tomamos um banho, colocamos roupas secas, deixei
Fábio descansando com minha tia e comecei minha peregrinação para tentar
rebocar o barco.
Fui ao Salvamar e nada (“nossa
lancha não pode sair com aviso de ressaca e nossa prioridade não é o
patrimônio e sim vidas”). Fui à capitania, onde agradeci a todo aquele
plantão (não lembro os nomes, me perdoem) por nos ter salvado, mas soube
que eles não podem mesmo fazer qualquer tipo de reboque. Resolvi ir ao
Charitas, em Niterói, e tentar algo por lá. Tive que esperar até 7 horas
quando chegam os marinheiros e o Josué, chefe da náutica, foi nota dez.
Liguei para meu amigo Ricardo Ermel, que logo, como bom homem de
Marinha, safou minha onça e convocou o comandante Carvalho para a faina.
Carvalhão chegou ao clube e após os
ajustes necessários, que a lei de Murphy sempre proporciona, conseguiu
me levar na sua lancha até a ilha da mãe por volta de 9 da manhã. O
comandante Ralph Rosa, grande velejador e amigo, me emprestou o alicatão
para cortar os brandais e estais (que todos sempre devem ter a bordo.
Nós não tínhamos.), pegamos um cabo de reboque, um pneu para ajudar a
fazer a catenária (a “barriga” do cabo de reboque) por conta do mar
grosso e lá fomos nós. Minha ideia era tentar salvar o mastro, mas se
não fosse possível, cortar tudo e deixar ir ao fundo. Tentei ainda
arrumar uma moto-bomba ou bomba elétrica com extensão, mas não consegui
(a bomba manual do barco não pôde ser acionada por falta do manete - ou
algo parecido - que sumiu na confusão. E fez muita falta!)
Por volta de nove e meia do
domingo, ainda sem pregar um olho, tive a segunda visão mais triste da
minha vida. O “Fratelli” não estava mais lá. Uma garrafa de mate pela
metade boiando (era nossa, com certeza!) e outros objetos que estavam
dentro da cabine, à deriva na direção de Camboinhas foram o indício de
que o veleiro tinha afundado. E há pouco tempo. Como? Não sei. Talvez um
pequeno vazamento pela quilha, talvez um registro ou mangueira abaixo
da linha d´água que com a pressão aumentada pelas toneladas de águas na
cabine se rompeu, talvez o mar, sempre ele, batendo contra o costado que
havia rachado a bombordo foi embarcando paulatinamente mais água. Não
sei.
Agora estou aqui aguardando os
mergulhadores que devem tentar localizar e, se houver condições, retirar
o barco do fundo. Fábio voltou, arrasado, para Cabo Frio. Sem
documentos, sem seus papeis, seu notebook, seu celular, sem a bíblia de
sua falecida mãe, sem seu barco, com roupas emprestadas e com o sonho
desfeito (mas vamos ter “nosso” Velamar 32 de volta, meu amigo, nem que
seja outro. Eu prometo!). Pedro nem queria ir ao hospital fazer exames.
Mas a mãe o obrigou e, apesar da pancada no quadril e no queixo que
deixaram marcas, está tudo bem.
Eu... Bem eu, estou aqui refletindo
sobre como pude ser tão estúpido e cometer o erro mais idiota e simples
que um navegador jamais deve cometer: achar que está no ponto A,
enquanto, na verdade, está no ponto B. Na era do GPS algo inadmissível.
Tenho vontade de dormir e não acordar nunca mais!! Mas não posso, tenho
que viver para ressarcir meu amigo de todos os prejuízos que lhe causei.
Fica o relato e a reflexão sobre o
que deu errado. Primeiro e acima de tudo, acho que o celular é realmente
algo que, a mim especialmente, distrai muito (rebocando, de “Lady Lou”,
os clássicos 6M de Lars e Torben para Angra uma vez, saí 90 graus do
rumo por conta de um torpedinho. Noutra, bati meu carro). Se eu não
estivesse tão desatento, provavelmente não estaria escrevendo esta
história hoje. Como pude verificar com tanta atenção a montagem das
ilhas Maricás, por sotavento, e dar apenas uma conferidinha boba na
carta, minutos antes, ao montar a ilha da Mãe (com sua laje), por
barlavento? Por que confiei, em uma noite escura, apenas na minha visão
com tantos instrumentos a bordo? Por que fui tão arrogante e babaca
quando Fábio me alertou, momentos antes, sobre a laje? Jamais saberei.
Claro que o fato de ser um lugar conhecido ajudou, mas jamais poderia
ter entrado naquele canal estreito, com mar grosso e perigo a sotavento,
sem o auxílio da carta. Jamais!
Acho que independentemente do que
tenha causado o episódio inicial do acidente, o que se passou depois
pode servir também a todos que navegam. Não tínhamos uma bolsa de
abandono preparada (faltou uma faca decente, lanternas, o manete da
bomba manual... E poderia faltar água, biscoitos, uma roupa quente,
etc.). Depois que o barco deu o 360° na laje (e em qualquer capotamento,
mesmo em mar aberto) a cabine vira o caos e, portanto, se você tiver
ferramentas, documentos e outras coisas importantes trancadas em um
armário que não se abra facilmente, alto e acessível, vai ajudar muito
(nossas manicacas sumiram e não pudemos usar as catracas para auxiliar
em nada, p.ex. Perdemos todos os nossos cartões e documentos. Não
achamos as lanternas e por aí vai...). Quando sair, mesmo em uma
aparente velejadinha simples, verifique sempre as condições de vento e
mar na rota (eu sabia que havia o swell grande, mas jamais soube que era
uma ressaca na barra do Rio de Janeiro porque simplesmente vi os GRIBs e
a carta sinótica e não entrei na página da Marinha para ver os avisos
de mau tempo. Essa desinformação não causou o acidente, mas atrapalhou o
resgate). Não confie que apenas lançar um Mayday no rádio vai ser
suficiente, se puder, tenha um EPIRB a bordo e o acione imediatamente.
E, por fim, se estiver próximo à costa tenha um celular com bateria e
capa protetora sempre à mão e amarrado (o meu não estava e foi um
milagre tê-lo achado). Espero que você jamais passe pelo que passamos,
mas, se for o caso, esteja preparado!
É com um gosto amargo na boca que
escrevo isso tudo e sinto profunda vergonha pelo erro que cometi. Ao meu
amigo querido e ao meu amado filho só posso pedir desculpas pelo risco
que os fiz passar, pela minha falha e prometer jamais repeti-la. Saber
que o prejuízo foi apenas material ajuda, mas não aplaca a tristeza e a
desonra. Espero que Netuno, Éolo, Iemanjá, Nossa Senhora dos Navegantes,
Iara e tantas outras entidades do mar e das águas continuem a nos
proteger. Mas espero mesmo que todos usem sempre a ciência e os
incríveis instrumentos tecnológicos que temos hoje para navegar com mais
segurança. E que sempre, sempre que estiverem no timão de um barco
estejam com 100% de sua atenção voltada para isso. Eu não o fiz. Quase
morri. E quase matei meu filho e um grande amigo.
Murillo Novaes