sábado, 27 de outubro de 2012

Cruzeiro Floripa - Angra - A Volta 3

Soltamos as amarras do pier do ICParanaguá exatamente às 15:45h da quarta (24/10), não sem antes fazer algumas tentativas mais de contatar o Kyriri. Seguimos pelo Canal da Cotinga com vento SE na proa e corrente contra. Quando já estávamos no Canal da Galheta, próximos a Ilha do Mel, o Giovane liga no meu celular. Que alivio! Acabara de ancorar na Encantada. Durante a primeira trovoada, próximo a Queimada Grande, entrou ar no sistema de alimentação do motor e eles ficaram à deriva até passar o temporal. Para piorar Rafael, o companheiro de Giovane, estava mareado. Após a tribuzana velejou em direção a terra e ancorou quando chegou a 20m de profundidade. Então descansaram e conseguiram fazer o motor voltar a funcionar, seguindo  a viagem. Aconselhei-o a ir ancorar na sub sede do ICP, ainda mais que precisaria abastecer de diesel e passei-lhe as previsões.


 Paranaguá vista do Rio Itiberê com o ICP

Logo mais cruzamos com eles e continuamos nossa travessia aliviados. A saída do canal estava com ondas de quase 2 m e saímos dele por volta das 18:40h, não sem antes sermos ultrapassados por um enorme cargueiro, pegando o rumo SW com vento SE de 14-16 nós. O mar estava com no máximo 1 m e mexido. Fizemos uma boa travessia com ventos SE e depois E variando entre 9 e 17 nós, conforme o trecho, com mar baixo, tudo de acordo com as previsões. Somente nas proximidades de Ganchos, a cerca de 3 horas do destino, o vento mudou para S com 6-8 nós. Este sim não estava em nenhuma previsão. Na última hora o vento acabou. Chegamos ao Veleiros da Ilha com uma leve garoa às 14:35h da quinta-feira 25/10.


As pontes de Floripa
Completamos mais uma jornada. Ficam o aprendizado, as lembranças e as histórias para contar. Meus agradecimentos aos amigos-tripulantes que participaram  comigo nas diversas etapas: Antônio Moura, Giovane Dal Grande, Jorge Calliari, Luiz Carlos Poyer, Elberto Larsen e Jorge Silveira. E a minha família.

Mais imagens AQUI.

Cruzeiro Floripa - Angra - A Volta 2

Giovane ainda não havia "enytrado"no horário de verão, de modo que saímos de Ilhabela com alguma chuva fraca, às 08:45h, da segunda 22/10. Descemos o Canal de São Sebastião com corrente contrária e vento fraco. Após sair do canal a chuva parou, o vento firmou em 10-14 nós de ESE com mar baixo de ondas longas, permitindo uma velejada gostosa. Até fizemos um penne com molho Pesto Rosso (pronto, que ninguém cozinhava nada a bordo). À tarde o vento aumentou de intensidade, conforme as previsões, e rizamos a mestra para uma velejada mais confortável. O mar cresceu um pouco e foi ficando cada vez mais mexido. Passamos pela Laje de Santos ainda com luz do dia.

Alcatrazes com mar calmo, pela manhã
Laje de Santos, no final do dia
 
Já na região da Ilha Queimada Grande com o vento leste nos pegando de popa, o mar mexido e o piloto já tendo "pedido água" há um bom tempo resolvemos tirar as velas para descansar. Assim o piloto levava o barco sem maiores problemas. Pouco depois, por volta de 01:30h (da terça-feira 23/10) entrou a primeira trovoada, com 35 nós de cara. Foi uma sequência impressionante de quatro trovoadas, durante mais de três horas, sendo que mais de duas horas só com vento e relâmpagos, sem chuva. O vento acima dos 30 nós, chegando a velocidade máxima de 39,6 nós (72,5 km/h). Entre uma trovoada e outra caía para 26-28 nós e pensávamos estar acabando. Aí vinha a próxima e lá ia ele para os 33-35 de novo. Andamos contra o vento (no nosso rumo) ajustando a rotação do motor para o mar, muito agitado aquelas alturas, mantendo um deslocamento de 1,8 a 2 nós. O Tinguá se comportou maravilhosamente e vencemos o temporal sem qualquer avaria. O prejuizo foi a perda de nossa pequena placa solar esquecida presa com velcros e um cabo branco fino sobre o dog house. Ela simplesmente sumiu, não vimos nem quando.

Pela manhã o vento voltou a ser leste com 12-14 nós e o mar agitado, com um metro e pouco a um metro e tanto. Por volta das 11 horas outra trovoada se formou rapidamente, na altura da Ilha do Bom Abrigo, e chegou já com chuva torrencial. O vento SW chegou a 36,2 nós mas durou cerca de 20 minutos. Mais uma vez nos saimos muito bem, adotando a árvore seca e correndo contra o vento só no motor.

A trovoada chegando

 
A trovoada chegou

 
A trovoada passou
 
Tudo melhorou quando nos aproximamos da Ilha do Mel: o mar baixou, o vento era na medida, o sol apareceu se pondo no horizonte carregado eaté os golfinhos vieram nos saudar. Adentramos o Canal da Galheta, na Barra da Baía de Paranaguá por volta das 20:30h. Maré de pouca variação enchente e as 21:40h chegamos ao nosso destino a Enseada da Encantada, na Ilha do Mel. Sabíamos pelas previsões que na madrugada entraria vento Sul, daí a razão de irmos até Paranaguá nesta perna. Devido a pouca profundidade daquela região não conseguimos ancorar na proteção dos morros e a corrente também estava bem superior ao vento. Decidimos então ir para a sub sede do Iate Clube de Paranaguá, na Ilha da Cotinga, ainda mais que por medida de segurança iríamos pegar mais diesel. Pegamos uma poita na sub sede por volta da meia noite, fizemos uma massa com vinho e desmaiamos até as 07:15h da manhã.

Golfinhos nas proximidades do Ilha do Mel

 
Chegando na Barra de Paranaguá
 
Durante o café da manhã confirmamos as previsões, que se mantinham. A estratégia era sair por volta de 16:00h pois quando saíssemos do Canal da Galheta, por volta das 19h, o vento já seria SE rondando para E durante a noite. Apesar de um aviso no site do CIRAM e da Paranaguá Rádio informar mar agitado com 4m de onda no mar aberto e 2,5m próximo ao litoral, confiamos no BuoyWeather e no CPTEC onde este mar ia só até a altura do Cabo de Santa Marta.

A tranquilidade do Canal da Cotinga

Demos uma geral no Tinguá , tomamos banho e rumamos para o centro de Paranaguá, ali perto, pelo Rio Itiberê. Compramos mais diesel e depois atracamos no pier do ICParanaguá onde almoçamos e descansamos. Uma boa coisa nestas travessias é os convenios que o nosso Veleiros da Ilha tem com vários clubes, que invariavelmente nos recebem muito bem.

A preocupação era com o Kyriri-ete de quem ainda não tinhamos notícias. Ele vinha mais lento e não conseguiamos contato pelo rádio. Nem depois com a estação do ICP. Deixamos vários recados no celular, que até a metade da tarde permanecia sem sinal.
Mais imagens AQUI.

Cruzeiro Floripa - Angra - A Volta 1

Chegada a hora de retornar para casa para os dois últimos participantes do Cruzeiro Floripa - Angra que ainda estavam na região da Baía da Ilha Grande. No dia 18/10 na companhia de Jorge Silveira (Comte. do Vento Solar) e Elberto Larsen (Comte. do Parangolé) tomamos o avião para o Rio e de lá o ônibus até a Porto Marina Bracuhy, em Angra dos Reis, para encontrar o Tinguá.

Beto nas "lidas domésticas"

Na sexta (19/10) preparamos o barco, demos baixa na marina e quando ligamos o motor notamos um som diferente do habitual e verificamos que não estava jorrando a água de refrigeração. Pensamos logo no rotor da bomba d'água, mas constatamos que era a correia que estava laceada, quase rompendo. Falha minha, que na revisão das 1000 horas substitui a correia do alternador e acabei por esquecer desta, ainda original. Menos mal que o problema se manifestou ainda na marina e não no meio de um mar revolto...

Deixando o Bracuhy rumo a Floripa
Correia substituida zarpamos rumo a Paraty às 13:50h, após completar o diesel no posto. A travessia foi com tempo chuvoso e ventos médios do quadrante sul. Chegamos a Marina Refúgio das Caravelas por volta das 17:20h, ocupando uma vaga no pier ao lado do Kyriri Ete, do Comte. Giovane Dal Grande. Depois do banho fomos para a cidade jantar e fazer o mercado. Giovane que ficou boa parte destes últimos meses em Paraty, nos levou num lugar bem legal, a Esfiharia e Cervejaria Camello.
 
 
Muitos golfinhos no caminho para Paraty
No sábado com Jorge e Giovane dei uma caminhada até a Marina Farol de Paraty para vermos os veleiros clássicos que estavam participando da 1 Regata de Veleiros Clássicos - etapa Paraty, naquele final de semana. Mais tarde fomos, com oTinguá, assistir a regata nas proximidades das Ilhas do Bexiga e Mantimento. Colocamos uma picanha para assar no forno que saboreamos ancorados na Enseada de Jurumirim. 

Marinas Farol e Engenho, em Paraty

Regata de veleiros clássicos

 
Escuna Dália, na regata de clássicos
 
No domingo (21/10) deixamos a marina, o Tinguá e o Kyriri-ete, às 04:50h rumo a Ilhabela, onde chegamos exatas 12 horas depois. O mar estava baixo mas mexido e vento tivemos só antes de dobrar a Juatinga e nas proximidades da Ilhabela. Fomos direto ao posto de abastecimento completar o tanque e mais uma bombona de 20l. O Kyriri com um problema na fixação do motor teve que manter um ritmo mais lento e chegou por volta das 19 horas.


Uma traineira de pesca, nas proximidades da Baía de Jurumirim

Ficamos em poitas do YCIlhabela, clube conveniado com nosso ICSC. Depois do banho e da janta no Manjericão, conferimos as previsões e marcamos a partida rumo a Ilha do Mel, na Baía de Paranaguá, à 200 mn, logo após a abertura do posto para o Kyriri abastecer.

O Cisne Branco, na Ilhabela


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sábado, 6 de outubro de 2012

Navegando com Tablet

Nesta última semana um dos assuntos dominantes no grupo de discussão da ABVC, no Yahoo, foi a utilização de cartas náuticas digitais em smartphones e tablets. Já existe a disposição, tanto para a plataforma iOS (Apple) como Android vários aplicativos para navegação digital, bem como encontramos à venda uma infinidade de acessórios para facilitar a sua utilização, tais como suportes, capas a prova d'água, carregadores 12V e muito mais. Assim como aconteceu com os localizadores por satélite pessoais tempos atrás agora os navegadores estão descobrindo as possibilidades de uso dos seus smartphones e tablets para a navegação náutica. Vou contar minha experiência.

A exemplo dos localizadores por satélite pessoais, como o SPOT, sem dúvida o mais popular entre nós, em contra ponto aos sistemas de localização Epirb, a navegação com smartphones e tablets versus chartplotters tem alguns aspectos muito interessantes. Com o desenvolvimento e popularização destes equipamentos, notadamente em suas capacidades de processamento e inclusão de GPS puros - isto é que utilizam diretamente o sinal do sistema GPS sem depender de outro tipo de sinal como wifi ou celular - o seu uso na navegação náutica passou a se difundir. Tenho um tablet iPad2 (o da maçã mordida) e optei pelo aplicativo da Navionics por ser uma empresa tradicional no segmento, desenvolvedora de cartas náuticas digitais compatíveis com equipamentos da Furuno, Lowrance, Hummerbird e outros. Meu GPS primário de navegação no Tinguá é um Garmin 76CSx com cartas digitais CCD Gold. Então não optei pelo uso no smartphone pois manteria a principal desvantagem do meu Garmin que é o tamanho reduzido da tela. 

Para não me alongar muito, vou logo dizendo que estou gostando muito. Por US$ 49,99 (a versão com as cartas do Caribe e Amécia do Sul, lado do Atlântico) a mais que o custo do meu tablete (que não foi adquirido pensando neste uso) tenho um chartplotter com tela de 10 polegadas touch screen, contra milhares de dólares dos equipamentos tradicionais (no Brasil mais de dezena de milhares de reais). Calma! Sei que os equipamentos tradicionais oferecem mais como maior numero de informações, adequação ao uso náutico, integração, robustez, confiabilidade, etc. Mas, para o uso da maioria de nós em travessias e cruzeiros costeiros e relativamente curtos, atende muito bem, com uma excelente relação custo x benefício. Tenho uma visão excelente da carta com os recursos de navegação (zoom, deslocamento) nativos dos tablets, traço e edito uma rota rapidamente com toques na tela, se tiver sinal de wifi ou celular tenho informações meteorológicas e de marés on line, flexibilidade podendo usá-lo no cockpit ou na cabine, na mão ou num suporte.

 
 Navionics no iPad

Outro ponto forte é o rápido desenvolvimento destes aplicativos. Tenho o meu  há 7 meses e a evolução vem sendo muito rápida. Novos acessórios também vem sendo desenvolvidos como, por exemplo, um hardware para comunicação wifi - NMEA, que permite a integração com outros equipamentos, como o piloto automático.

 Com o novo módulo de navegação (á direita na tela) que ainda não testei no mar

Naturalmente o utilizo como um complemento a navegação, nunca deixando de lado meu GPS náutico, bússola e as cartas em papel. Por outro lado a carta da Navionics não possui, no caso da América do Sul, o nivel de informação da CCD Gold ou da GPSMapas, que implementam muitas informações adicionais, atualizações checadas por navegadores, rotas recomendadas para a entrada em barras e portos, que nos auxiliam muito na navegação. Resta torcermos para que estes últimos também desenvolvam seus sistemas para os smartphones e tablets.

Um detalhe para quem for comprar o iPad. Para funcionar o GPS puro precisar ser de um dos modelos com wifi + chip de celular (parece uma contradição, não).

Alguns exemplos de capas a prova d'água e outros acessórios aqui e acolá.